segunda-feira, 25 de abril de 2011

"Ninguém liga pra mim"

É fato: na vida, seguimos nosso rumo com a maior rapidez possível, raramente lutando ou enfrentando a corrente, muito menos diminuindo a velocidade o suficiente para que nos apeguemos às situações e às pessoas que passam por nossa vida.

No alto da velocidade com que vivemos não tentamos nos agarrar a visões de mundo e opiniões, nós somente nos ligamos ligeiramente às coisas enquanto passamos pela vida, mas quando nos ligamos, é com inteligência, com interesse, e depois deixamos essas coisas irem embora, graciosamente, sem nos apegarmos.¹

As afirmações não são minhas. É o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que possui mais de uma dezena de livros publicados, que é enfático: “ligações frouxas e compromissos revogáveis são os preceitos que orientam tudo aquilo em que [as pessoas] se engajam e a que se apegam.”

Mas o que pode parecer filosófico demais ou difícil pra alguns, pode ser traduzido de forma simples: a sociedade atual não quer compromissos, ligações intensas, não quer apego. Tudo o que interessa para as pessoas da pós-modernidade (leia-se 'dos dias de hoje') é nada mais que o efêmero, o passageiro, o superficial.

A questão é polêmica, mas quero tornar a reflexão fácil. É como se nossos dias fossem como uma falsa amizade, daquele tipo que é movida e mantida pelo interesse: superficial, que se importa, na verdade, somente com o próprio bem-estar, e não com a satisfação do outro ou em dar atenção ao outro.

Tá achando isso aqui familiar?

Então, meu caro, minha querida, reflita se você tem mostrado ser mais um nadador a favor da corrente, ou se você realmente se importa com os laços de amizade, carinho e respeito que têm. Se é que construiu algum suficientemente sólido na vida...

O simples hábito de manter contato com quem está longe, de deixar um recado na internet, de dizer EU TE AMO, mesmo sendo membro dessa sociedade que não está interessada em ligações intensas, pode ser uma luz em meio a uma realidade tão tenebrosa, pouco acolhedora.

Afinal, dói não saber o que está acontecendo na vida das pessoas que amamos. É como se a realidade jogasse na nossa cara: “você não faz parte mais da vida dele, dela”. Pense nisso.




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1 - BAUMAN, Zygmund. Vida líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007, p 11. No trecho, Bauman cita Barefoot Doctor, pseudônimo de um colaborador da Observer Magazine, de 30 de novembro de 2003, p. 95.



terça-feira, 19 de abril de 2011

Mãe é tudo isso

Visitas ao médico, bolos, sobremesas, material escolar, roupas, calçados, cremes para o cabelo, perfumes, presentes, livros. Mãe dá tudo isso pra gente. Mãe dá computador, dá remédio, horas no salão de beleza, casa, comida, roupa lavada, cama quentinha, cobertor. Dá vestido no calor, casaco forrado quando tá frio. Dá tênis pra fazer esporte, roupa pra brincar na piscina, relógio pra não perder a hora, celular pra sermos encontrados, agenda pra nos programarmos, cadernos pra não deixarmos de estudar.

Mãe dá carinho, dá atenção, ouve o choro, ouve risada, ouve reclamação, ouve atrevimento, engole sapo, leva desaforo pra casa. Mãe dá o ombro, conversa por horas no telefone, dá conselho, puxa a orelha, conta piada, alerta contra o perigo, ajuda quando tudo tá difícil. Mas mãe é mais que isso. Mãe acorda a gente pra ir pra escola, abre a cortina do quarto sem demora, faz cosquinha em filha manhosa, sempre por nós ora. Mãe pede a Deus que tenhamos saúde, lembra sempre de suplicar a Deus que nos cuide.

Mãe é como um anjo sem asas e que, portanto, não pode voar. Mesmo assim, nunca esquece da gente e nunca deixa de nos guardar. Guardar nem que seja em fotos, lembranças, momentos de emoção, pedaços de papel. Mãe sempre guarda a gente no coração.

Mãe, eu não sou mais aquela menina que escrevia poemas em um caderno cor-de-rosa e, toda animada, lia em voz alta pra ver em você um sinal de aprovação. Eu cresci, e isso dói. Dói porque sei que não voltarei pra casa.

Dói saber que a distância agora é nossa realidade, nossa companhia, é constante em nossa vida. Dói perceber que o tempo contigo passou rápido demais. Já são anos longe de casa, longe da convivência diária, longe dos seus conselhos pra tudo. Limitar ter você apenas por telefone dói, mas é quase irreversível. Afinal, não dá pra ter 12 anos pra sempre.

Hoje sou como um reflexo de você. Daquilo que você me ensinou, das lições que me mostrou, do mundo que me apresentou, do jeito que me educou, dos gostos que em mim formou, dos hábitos que em mim cultivou. Ao longo dessa estrada muitas das coisas que você me deu fui abandonando. Ou por teimosia, rebeldia ou porque achei que eu não me adaptaria. Mesmo assim, ainda vejo e sempre verei em você a garra que quero ter, o profissionalismo que busco mostrar, a humildade que preciso conquistar, a bondade que desejo desenvolver.

Obrigada pelos sacrifícios, pelas negações, por muitas vezes se anular, pela paciência – até mesmo quando ela acabou -, por ser forte, por acreditar em mim, por confiar, mesmo eu não merecendo. Mãe é tudo isso. Obrigada por ser completa.

Feliz aniversário,
Eu te amo!


São três letras apenas as desse nome bendito
Também o céu tem três letras
e nelas cabe o infinito.
Para louvar nossa mãe,
Todo o bem que se disser
Nunca há de ser tão grande
Como o bem que ela nos quer.
Palavra tão pequenina,
Bem sabem os lábios meus
Que és do tamanho do céu
E apenas menor que Deus.


Mário Quintana