quinta-feira, 24 de junho de 2010

Vá até o fim

Um dia desses quando eu estava na minha cama, vivendo aquele momento que antecede o “dormindo profundamente”, comecei a pensar no quanto sou fraca. Falo de fraqueza no sentido de desistir facilmente, de não persistir na busca pela realização dos desafios que estabeleço para mim. Decidi, então, escrever sobre isso. E, no dia seguinte, fui procurar saber a diferença exata entre persistência e perseverança.

Abri o dicionário e lá estava escrito:
Persistência: perseverança, constância, teimosia.
Perseverança: persistência, constância, firmeza.

Preciso te dizer que, a partir desse dia, não tratei persistência e perseverança como palavras sinônimas. Tudo por culpa da teimosia, essa palavrinha que aparece na explicação do que é persistência.

Eu fui muito levada quando criança. E era teimosa. Se você tem filhos deve saber o que estou falando. Criança teimosa é quase que nem um jumento empacado - que nem falam no nordeste - não sai do lugar. Não muda de ideia. Minha mãe diz que “puxei” essa característica do meu pai, o maior cabeça-dura lá de casa. O fato é que a teimosia, um tipo de insistência muitas vezes irritante, me fez ver que persistência e perseverança não são a mesma coisa.

Fico, então, com a perseverança, que parece ser um misto de persistência e esperança, e que defino aqui como uma qualidade rara e distorcida hoje em dia. Explicarei.

É rara porque costumamos desistir com incrível facilidade. Imagine que você passou a semana inteira sonhando em tomar um milk-shake. Aí, finalmente, o sábado chega se mostrando um dia extraordinariamente lindo. Você recebeu o salário na sexta-feira, está de bom humor e os vizinhos chatos que sempre fazem visitas inoportunas viajaram. Parece que tudo conspira em favor do suculento milk-shake.

Já está decidido. Depois de passar o dia curtindo sua casa, às 19 horas você será o primeiro na fila do milk-shake da lanchonete da esquina de cima da sua casa. Vai pedir um sabor chocolate. Assim, você mata duas vontades de uma só vez: a de tomar um milk-shake bem gelado e a de sentir o gosto, quase esquecido, de chocolate. O trabalho anda exigindo tanto de você que nem aquelas escapadas estratégicas em horário de expediente pra comer uns pedacinhos de Suflair são possíveis mais.

São 18 horas. Você decide tomar um banho antes de ir à lanchonete para dar alegria ao seu estômago. Passa pela janela e dá uma conferida no movimento do lado de fora. Mas, para sua surpresa, está chovendo!

Ah, não! Chuva? Agora? Ah... Mas às vezes é só uma garoazinha fina... Então, olha de novo pela
vidraça. A chuva aumenta! E o vento assobia pra você que também está frio. Pronto. Adeus ao milk-shake, à lanchonete e ao estômago feliz.

Você desiste de sair de casa por causa da chuva. Afinal, é noite de sábado e você não quer se molhar depois de dar uns passos apressados, embaixo de um guarda-chuva, até a lanchonete. Então a decisão é essa mesmo: “não vou mais. Desisto”. Sábado que vem você vai, né? Dá pra esperar mais uma semana.

Será?

Se você desiste de um mísero milk-shake por causa de uma chuvinha, será que não anda desistindo de coisas bem mais importantes também?

Enfim, como eu disse, além de rara a perseverança está distorcida também. Muitas vezes insistimos em algo por motivos pequenos. Perseveramos por um milk-shake de chocolate sim, mas não pelo sonho de se graduar naquele curso que realmente gostaríamos. Ou, talvez, você tenha deixado de lado aquele plano de começar a fazer exercício físico. Até porque o projeto foi feito nas vésperas do réveillon de 2010 para ser praticado assim que o novo ano começasse. E, agora, já se passaram quatro meses. Acho que nem adianta mais.

Na verdade, eu não sei qual o sonho que você acalentava no coração e, por não perseverar o suficiente, não realizou. Não sei se era grande a ponto de poder interferir no percurso da sua vida, ou pequeno, como o simples desejo de tomar milk-shake no sábado passado.

A boa notícia, porém, é que se você está lendo esse texto, é porque a vida não acabou pra você. E, se não acabou, ainda dá tempo de fazer acontecer aqueles planos.

Eu também já planejei muito e não coloquei em prática também, mas esqueço que ainda posso tornar realidade meus sonhos. Não posso dar espaço para minha fraqueza, aquela tendência infeliz de desistir daquilo que eu quero. Até porque o mundo parece ser não muito simpático com pessoas fracas.

É óbvio que não é fácil ser perseverante. Se fosse fácil eu não tinha dado tantos cabelos brancos à minha mãe. A perseverança dela em me educar custou anos de paciência. Na verdade, é aqui onde quero chegar. A paciência é a chave de tudo isso, é o segredo da perseverança. É como escalar uma montanha, não é possível chegar ao cume dando um passo só. Para subir um morro é preciso, também, paciência.

A paciência dá força à perseverança. Eu, pelo menos, não conheço pessoas que são perseverantes e impacientes. Já pessoas pacientes que perseveram, são encontrados com demasiada facilidade.
Para finalizar, quero dar uma perola de presente para você, uma pequena porção de conhecimento: uma citação de um escritor irlandês que viveu quase 100 anos.

“As pessoas estão sempre culpando as circunstâncias pelo que elas são. Não acredito em circunstâncias. Vence neste mundo quem sai à procura das circunstâncias de que precisa e, quando não as encontra, as cria.” George Bernard Shaw

Não sei por que Bernard Shaw escreveu essa frase, mas sei que ele estava realmente inspirado quando a criou. Pense nessas palavras. Não se passe por vítima porque a vida não realizou seus sonhos. Ela não pode fazer por você aquilo que VOCÊ deve fazer por si mesmo.