sexta-feira, 8 de julho de 2011

Correndo da vida

Nada mudou tanto a vida das pessoas quanto o fator velocidade, isso é, a necessidade capitalista de acelerar a produção e, assim, alcançar mais rapidamente nossos objetivos. Mas esse fenômeno não é recente. 

A velocidade começou a alterar a rotina da sociedade logo nas primeiras décadas dos anos 1900 e as mudanças causadas pelo desejo de conquistar velozmente bens e status passaram a extrapolar os limites do nosso bolso e atingir nossos relacionamentos.

Para a psicóloga Isleide Fontenelle, doutora em Sociologia pela USP, uma vida cada vez mais veloz e instantânea em relação ao tempo causou a diluição das experiências humanas¹. Isso significa que perdemos, inclusive, a noção da profundidade e da importância que têm as muitas experiências pelas quais passamos na vida.

Foi no início do século 20 que a civilização começou a ver crescer um novo tipo de capitalismo: focado no progresso técnico, nas indústrias e no desenvolvimento tecnológico. Tudo isso nos levou a planejar nossa existência no limite do tempo, sempre competindo contra ele.

O carro surge como um agente fundamental da vida humana, tomando o lugar das carroças, que passaram a não mais atender a necessidade de poupar tempo nas ruas trepidantes das cidades. Criam-se os teares industriais, que passam a produzir dezenas de vezes mais, e surge o fast food, opção mais rápida de alimentação. A pavimentação dos centros urbanos também surge como alternativa valiosa em prol da aceleração da média de velocidade dos carros. Ou seja, todas essas mudanças foram esforços que se tornaram indispensáveis para que ele – o tempo – mais uma vez, fosse poupado.

Mas será que uma vida tão acelerada não traz prejuízos? Ao produzir em maior escala, o consumo também precisou aumentar. Sendo assim, as experiências humanas, citadas no início do texto, sofreram alterações. E para pior. Para a psicóloga Isleide, foi por causa da vida em constante aceleração que “a busca da felicidade atrelou-se, definitivamente, ao consumo de bens e serviços”. Não é a toa que propagandas tentam nos vender produtos cada vez mais sofisticados, mas que, se pararmos pra pensar, na maior parte das vezes são produtos que já temos.

Além disso, o homem de hoje parece não ter raízes ou alguma segurança que lhe dê sentido à vida, "ele está freneticamente apressado, talvez porque não saiba para onde vai, mas, ao mesmo tempo, vive paralisado pelo medo, talvez porque não saiba o que lhe dá medo"².

O problema é que essa paralisia se expande para todas as áreas da vida como, por exemplo, o amor e a política. Ou vai me dizer que você não vê à sua volta jovens pouco interessados em política, indivíduos egoístas que priorizam relações passageiras e sem compromisso, assim como pessoas cheias de princípios dispensáveis?

Não há como negar: presenciamos a “mais profunda apatia dos tempos modernos”, enxergamos uma "crescente desesperança de modificar a sociedade e de até mesmo entendê-la. As pessoas convenceram-se de que o importante é viver para o momento. Essa é a paixão predominante: viver para si”³.
Então... Será que me encaixo nessas descrições? E, você, faz parte deste grupo?


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1- FONTENELLE, Isleide. O nome da marca: McDonald's, fetichismo e cultura descartável. 1 ed, São Paulo: Boitempo Editorial, 2002.

2 - MILLS, Wright. A nova classe média. Rio de Janeiro: Zahar, 1696, p. 17-18.

3- LASCH, Christopher. A cultura do narcisismo: a vida americana numa era de esperanças em declínio. Rio de Janeiro: Imago, 1983, p. 24.

2 comentários:

  1. Muito bom seu estilo. Li vários posts.
    Voltarei aqui.
    Prossiga sempre, leva jeito para fluir.

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  2. Oi, Marisa!

    Obrigada por sua visita ao meu blog!
    É muito bom quando sabemos q alguém percorreu pelos caminhos dos nossos pensamentos.

    Vejo q vc tbm gosta muito de explorar suas ideias. Três blogs! Uau! Mal dou conta de 1 só. =/ hahahah

    P.S: adorei o texto "E eu chorei" do "como as ondas", me identifiquei muitíssimo.

    Beijos!
    Liana

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